1° Ano - Português

 LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA
 Linguagem – qualquer código por meio do qual os seres humanos podem realizar atos de comunicação. Pode ser verbal ou não verbal.
Língua  ou idioma – forma particular de linguagem utilizada por   um determinado povo para se comunicar por meio de palavra falada ou escrita.
Fala – Maneira como cada pessoa utiliza concretamente o seu idioma.

GRAMÁTICA
A GRAMÁTICA é um sistema de funcionamento da língua regulamentado pela prática diária dos falantes e ouvintes de determinado idioma. Dá-se o nome de gramática normativa geralmente ao conjunto de normas que regulamentam uma língua. No entanto, a língua não é regida apenas por suas normas, existe outros registros linguísticos que também influenciam na produção linguistas a essa diversidade de registros chamamos variação linguística.

VARIEDADES LINGUÍSTICAS
A gramática normativa é a que rege a língua correta, ou a língua padrão, que deve ser usada nas escolas, nos meios de comunicação, nos livros didáticos, manuais e etc. A língua padrão é predominante no meio urbano.
A língua padrão pode apresentar os níveis: formal e informal. E existe ainda a variedade não padrão, que pode ser coloquial e popular, representativa da maioria dos falantes em suas relações sociais mostrando despreocupação com as regras da língua padrão.

Exercício
Leia o texto abaixo:
Um caboclo, vendo uma movimentação de homens e equipamentos perto do sitiozinho onde ele morava, vai até lá e pergunta a um deles:
_ Cum licença, moço, o que oceis tá fazeno?
_ Aqui vai passar uma rodovia – responde o homem – e nós somos os engenheiros e técnicos. Com esses equipamentos nós vamos definir por onde a estrada vai passar.
- Oia, moço, o senhor vai discurpá, mais no sertão nóis faiz estrada de otro jeito. Nóis pega uma mula e sorta ela. Onde passa... aí é o mió lugá de abri a estrada. Num tem erro!
O engenheiro, achando graça na simplicidade do caipira, diz sorrindo:
- É mesmo? Não me diga! Mas... e se vocês não tiverem uma mula?
E o caipira:
- Ué... aí nóis quebra o gaio com uns engenheiro...
(texto de domínio público)





11. No texto há um diálogo entre personagens de classes sociais diferentes. Defina os personagens e suas classes sociais, apontando os elementos característicos de cada classe.

 2.   Tendo em vista o conceito de gramática normativa e linguagem padrão, qual dos personagens se enquadra nesses conceitos?

  3. Tendo em vista o conceito de linguagem não padrão, qual dos personagens utiliza esse registro e por quê?

  4. Na sua opinião,  COmo o engenheiro se sentia em relação ao personagem caipira?

 5. Observando o final do texto, qual a opinião do caipira sobre os engenheiros e por qual motivo o caipira tinha esta opinião?

    O trecho a seguir reproduz a fala de um operário. Leia-o e responda os itens de a a c.

“Os nossos salários, cum relação ao que nóis fazemo e o lucro que os outros tem, é insignificante. Por que acontece isso? Eu tenho que trabaiá trezentos e sessenta e cinco dia por ano. O outro não trabaia nem... nem cem dia, ganha muito mais. Porque eu só a máquina de dô descanso pra ele.”
RAINHO, Luís Fernando. Os peões do Grande ABC. Petrópolis, Vozes, 1990. p. 199.

  a)    Identifique no texto as duas diferenças mais evidentes em relação ao padrão formal da língua portuguesa.

  b) Suponha que alguém, depois de ler esse texto, dissesse o seguinte: “Essa pessoa não sabe falar, não sabe gramática, por isso comete muitos erros” Você concordaria com essa opinião? Justifique.



   
      Leia este poema




AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
Na ponta da língua,
Tão fácil de falar
E de entender.

A linguagem
Na superfície estrelada de letras,
Sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
E vai desmatando
O amazonas da minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas
Atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
Em que podia ir lá fora,
Em que levava e dava pontapé,
A língua, breve língua entrecortada
Do namoro com a prima

O português são dois; o outro, mistério.
  ANDRADE, Carlos Drummond de: In, Boitempo: esquecer para lembrar. São Paulo: Companhia das Letras. www. Carlosdrummond.com.br.
    a)   A que variedade linguística fazem referências as estrofes 1 e 4 ? E as estrofes 2 e 3? Justifique suas respostas com passagens das próprias estrofes.


  
    b)  De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra “esquipático” talvez tenha surgido da junção das palavras “esquisito” e “antipático”. Considerando essa possibilidade, estabeleça uma relação entre “esquipáticas” (verso 11) e o conteúdo da 3ª estrofe.

    c)  Explique o último verso do poema: “O português são dois; o outro, mistério.”

         (Enem- MEC) Leia os textos:

Texto 1
“O professor deve ser um guia seguro, muito senhor de sua língua; se outra for a orientação, vamos na “língua brasileira”, refúgio nefasto e confissão nojenta de ignorância do idioma pátrio, recurso vergonhoso de homens de cultura falsa e de falso patriotismo. Como havemos de querer que respeitem a nossa nacionalidade se somos os primeiros a descuidar daquilo que exprime e representa o idioma pátrio?”
ALMEIDA. N. M. Gramática metódica da língua portuguesa. Prefácio. São Paulo: Saraiva, 1999 (adaptado)


Texto 2
“Alguns leitores poderão achar que a linguagem desta Gramática se afasta do padrão estrito usual neste livro. Assim, o autor escreve tenho que reformular, e não tenho de reformular, pode-se colocar dois constituintes e não podem-se colocar dois constituintes, e assim por diante. Isso foi feito de caso pensado, com a preocupação de aproximar a linguagem da gramática do padrão atual brasileiro presente nos textos técnicos e jornalísticos de nossa época.”
REIS, N. Nota do editor. PERINI, M. A. Gramática descritiva do português. São Paulo, Ática, 1996.


Confrontando as opiniões defendidas nos dois textos, conclui-se que:
a)    Ambos os textos tratam da questão do uso da língua com o objetivo de criticar a linguagem do brasileiro.
b)    Os dois textos defendem a ideia de que o estudo da gramática deve ter o objetivo de ensinar as regras da língua.
c)     A questão do português falado no Brasil é abordada nos dois textos, que procuram justificar como é correto e aceitável o uso coloquial do idioma.
d)    O primeiro texto enaltece o padrão estrito da língua, ao passo que o segundo defende que a linguagem jornalística deve criar suas próprias regras gramaticais.
e)    O primeiro texto prega a rigidez gramatical no uso da língua, enquanto o segundo defende uma adequação da língua escrita ao padrão atual do brasileiro.     


ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO AREAL
LÍNGUA PORTUGUESA
AULA 2

TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO-LITERÁRIO

         Dependendo da forma como a língua é utilizada, a comunicação pode acontecer de maneira mais ou menos direta. É mais direta quando as palavras são empregadas em seu sentido imediato, concreto, real e mais conhecido pela comunidade da qual o falante faz parte. E menos direta quando as palavras são organizadas de tal modo que se pode extrair delas e de sua composição um sentido novo, resultado do contexto, da realidade artística ou da percepção do falante.
         Quando nossa intenção é empregar as palavras em seu sentido mais imediato, concreto e literal, temos o sentido denotativo. Quando nossos textos buscam apresentar uma multiplicidade de sentidos, empregando a língua de forma menos usual, usando o exercício da imaginação, atribuindo novos significados à realidade, temos o uso conotativo da linguagem.
         Os textos cujas palavras, em sua maioria, são denotativas, são chamados de textos não-literários. Já, aqueles em que a intenção é despertar a imaginação e apresentar uma multiplicidade de sentidos, são chamados de textos literários.



Observe o texto abaixo

Poema tirado de uma notícia de jornal
 
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manuel Bandeira

1. O que sugere a palavra “Gostoso” como sobrenome do personagem?

2. Qual era a ocupação do personagem? Qual a diferença entre trabalhar numa feira e trabalhar numa feira livre?

3. Historicamente, Babilônia foi uma cidade muito importante do mundo antigo, chegando a ser um dos impérios mais importantes da sua época. A bíblia traz registro de seu nascimento com o mito da Torre de Babel, cujo objetivo era alcançar a morada de Deus. No lugar da torre, cresceu uma cidade que depois recebeu o nome de Babilônia, seu rei mais famoso foi Nabucodonosor no século IV a. C, ela foi assediada pelos assírios, pelos arcadianos, pelos persas e por fim pelos gregos, sendo sede do poder de Alexandre, o Grande, sendo finalmente dizimada pelos romanos, mas ainda hoje, quando se pensa na palavra “Babilônia”, se pensa em riqueza, grandeza e poder. Que ironia encontramos na afirmação de que João morava no morro da Babilônia?

4. Que significado tem informar que João morava num “barracão” e não numa casa?

5. Do ponto de vista social, o que significa morar num lugar sem número?

6. A palavra “noite” pode ser entendida tanto de forma denotativa, quanto conotativa. Que significado sugere essa palavra conotativamente?

7. O Bar que João freqüentava representa importante data na história da opressão no Brasil. Qual o significado de 20 de novembro?

8. Que diferença pode haver na comunicação das seguintes ideias:
 1 – ideia:
(João) bebeu, cantou e dançou.
2 – Ideia
(João) bebeu
           Cantou
           Dançou

9. O poema informa que João se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Com 9,5 km de contorno, a Lagoa Rodrigo de Freitas está ligada ao mar pelo canal do Jardim de Alá, que separa o Leblon de Ipanema. Suas águas são o local preferido dos remadores. Por esse motivo, a lagoa é rodeada por clubes tradicionais do remo, como Flamengo e Vasco (sede náutica), e outros de lazer, como Caiçaras e Piraquê.
Às margens da lagoa, o público encontra ciclovia, pista de cooper, playground, quadras esportivas e um pequeno centro gastronômico com quiosques que oferecem de comida italiana à japonesa, além de música ao vivo à noite. Anexo está o Parque da Catacumba, que expõe ao ar livre 30 esculturas de artistas brasileiros e estrangeiros.
Desde 1995, a Lagoa Rodrigo de Freitas conta com o Parque Tom Jobim, que reúne áreas de lazer, esportes, gastronomia, entre outros. O espaço é tão democrático que abriga até o ParCão, um parque dedicado apenas ao caninos.

A Lagoa Rodrigo de Freitas tem um significado cultural, social, econômico e histórico. Desvende esses significados?

10. Tendo em vista a vida do João e o local de sua morte, por que motivo você considera que João foi dar fim a própria vida, justamente na Lagoa Rodrigo de Freitas?

11. A partir dos conceitos de texto literário e texto não-literário, como você classifica o texto de Manuel Bandeira? Defenda sua classificação.



12. Retire o caráter conotativo do poema de Manuel Bandeira, transformando-o num texto denotativo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Quando nos comunicamos com alguém, transmitimos ao nosso interlocutor uma determinada mensagem (ideia), que, sob a forma de um código (por exemplo: língua portuguesa), é levada até ele por meio de um canal ou veículo de comunicação.
Um ato de comunicação se realiza, portanto, pela articulação de cinco elementos básicos. Veja no quadro:

Elemento do ato de comunicação
Papel no ato de comunicação
Emissor
Ator da comunicação
Receptor
Expectador da comunicação
Mensagem
Conteúdo da comunicação
Código
Sistema usado para compor a mensagem
Canal
Ar, papel, tv, internet, etc.

Em nossas relações na sociedade, utilizamos a linguagem para as mais diferentes finalidades. Nós a usamos, por exemplo, para transmitir/receber informações, construir representações mentais do mundo, convencer outras pessoas, expressar nossos sentimentos, estabelecer/manter relações sociais, etc. Dizemos, por isso, que a linguagem tem diferentes funções.
As funções da linguagem subdividem-se em seis tipos, dependendo do elemento de comunicação no qual a mensagem está predominantemente centrada.
Vamos, então, conhecer essas funções, suas características e suas finalidades.

Função Referencial
A função referencial ou informativa tem como foco o próprio conteúdo da mensagem, é a função que predomina nos noticiários de TV, rádio ou internet, nos jornais impressos, nas revistas de informação, nos textos técnicos, contratos, relatórios, etc.

Função Apelativa (Conativa)
Nessa função o receptor da mensagem é o foco central da mensagem, buscando influenciar seu comportamento, sonhos e desejos. É muito utilizada em anúncios publicitários, placas de aviso, textos de horóscopo, etc.
   
Função emotiva (Expressiva)
É uma mensagem centrada no próprio emissor, com a finalidade de evidenciar seus sentimentos e emoções.

Função Metalinguística
A linguagem tem seu foco no próprio código linguístico, isto é, na própria linguagem. São as mensagens que tentam explicar o significado de uma palavra, ou seu sistema, seu modo de produção.
Função Poética

A linguagem é focada na mensagem e há uma preocupação com a combinação das palavras tendo em vista sua sonoridade, seu ritmo e a produção de rimas. Está presente nos slogans publicitários, ditados, cantigas, trava-línguas, poesias, música e em textos em prosa em que se percebe claramente um trabalho poético com a linguagem.

Função fática
A linguagem é centrada no canal (meio em que se estabelece a comunicação), evidencia-se quando a linguagem serve para iniciar, manter, retomar ou concluir o ato de comunicação. Palavras e expressões como: “alô!”, “oi”, “tudo bem?”, “certo”, “né”, “tá” “ligado?” “E aí?”, “tchau”, caracterizam essa função da linguagem.

Exercício sobre níveis e funções da linguagem
1 1.     Um ato de comunicação se realiza com mais eficiência quando o emissor – aquele que fala ou escreve – é capaz de adequar sua linguagem ao contexto.
Em cada um dos itens abaixo, identifique qual das formas de expressão é mais adequada à situação de comunicação descrita.

a)      Em uma loja, um vendedor conversa com uma cliente, que tenta conseguir um desconto:

 1.       Ó, dona... Não dá... O preço é esse mesmo... Se eu quebrar o seu galho e maneirar no preço, o gerente vai virar bicho e aí ele pode me ferrar legal.

2. Desculpe, senhora, mas o preço é esse mesmo. Se eu der um desconto não autorizado, o gerente vai me advertir e eu posso até ser demitido. 




b)      Em uma sala de aula, um aluno pede que um colega lhe empreste uma caneta:

         1. Por obséquio, poderias fazer a fineza de emprestar-me a tua caneta? Devolvê-la-ei assim que a desocupar. 

      2. Por favor, me empresta aí a tua caneta. É rapidinho; te devolvo, já, já.

  
c)      Em uma solenidade de formatura, um orador faz um discurso:

1.       É indescritível minha satisfação ao ver esses jovens atingindo uma meta pela qual despenderam tantos esforços e incontáveis horas de dedicação aos estudos.

         2. Tô feliz demais em ver essa moçada faturando um diploma, depois de ter ralado tanto e ficado com o nariz enfiado nos livros tanto tempo que nem dá pra dizer direito. 

        d)      Um rapaz respondendo, por escrito, à seguinte pergunta num processo de seleção de emprego: O que você acha necessário para progredir profissionalmente em nossa empresa, caso seja contratado:
                            
1.       O jeito é pegar firme, dar o sangue, encarar de frente os problemas; tem também que jogar limpo, sem sacanear os colegas de trabalho.

2. Conjecturo que se faz mister laborar com afinco, sobrepujar as vicissitudes e não utilizar subterfúgios antiéticos prejudiciais aos colegas de trabalho.

3. Penso ser necessário ter disposição para o trabalho, dedicar-se bastante, buscar soluções para os eventuais problemas e ser ético, leal em relação aos colegas de trabalho.               
   
                
















Leia os três textos abaixo:
Lua deslumbrante
Azul verdejante
             Calda de Pavão
           Lua de São Jorge
Cheia, branca, inteira
 Oh, minha bandeira
Solta na amplidão
Lua de São Jorge
Lua brasileira
Lua do meu coração
VELOSO, Caetano. Lua de São Jorge. Universal music, 1979.



Texto 2.

A lua, satélite natural da Terra, tem um diâmetro de 3476 Km. Segundo dados colhidos pelas espaçonaves Apolo, sua crosta é formada por várias camadas, com cerca de 60 Km de espessura; de um manto com cerca de 1000 Km de espessura e de um núcleo com cerca de 700 Km de raio, contendo grande quantidade de ferro.

GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1988. V. 15. 3666. 


Texto 3.

Lua S.f. 1. (inic, maiúsc.) Satélite da Terra. 2. ( P. ext) satélite de qualquer outro planeta. 3. O espaço de um mês lunar. [...]

KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury de língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2001, p. 475.


       a) Qual é o ponto em comum entre os três textos?

       b)  As funções da linguagem por meio das quais esses três textos foram produzidos coincidem ou são diferentes? Justifique.

Os trechos abaixo, foram retirados de diversas mídias, analise-as e responda as questões.

Trecho 1
No Recife, integrantes de movimentos sociais se reuniram no centro e seguiram em caminhada pela avenida Conde de Boa Vista, uma das principais da cidade. Bonecos representaram a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Para os organizadores, 90 mil participaram. Segundo a PM foram seis mil.
www.globo.com/manisfestações

   1.  Ao descrever as pessoas presentes na manifestação como “integrantes de movimentos sociais”, que ideia se estabelece sobre os manifestantes?


2  2.  Você considera que essa notícia se resume a narrar os fatos acontecidos? Explique:

3  3. Que função predomina na construção desta notícia? Explique.

Trecho 2

O que são “Pedaladas Fiscais?”

São manobras contábeis que, segundo a oposição, teriam como objetivo melhorar o resultado das contas públicas - ou seja, ajudar o governo a fazer parecer que haveria um equilíbrio maior entre seus gastos e suas despesas.
No caso, o governo Dilma é acusado de atrasar o repasse de recursos para benefícios sociais e subsídios pagos por meio da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES para passar a impressão de que as contas públicas estariam melhor do que realmente estavam.
Teriam sido "segurados" um total de R$ 40 bilhões do seguro-desemprego, programa Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e crédito agrícola, segundo o TCU.
Como os desembolsos não foram efetuados, as contas do governo pareceram temporariamente mais equilibradas.
A questão é que não houve atrasos no pagamento desses bilhões de reais em benefícios e subsídios para seus beneficiários, porque os bancos públicos cobriram esse valor - cobrando juros do governo pelo uso de tais recursos.
Tais manobras, segundo o TCU, configurariam operações de financiamento, ou "empréstimos" desses bancos para o Tesouro, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000 - embora haja quem refute essa tese.
Na visão da oposição, 'pedaladas' não poderiam ter ocorrido sem consentimento de Dilma.


a)    O texto jornalístico se dispõe a explicar o que são “pedaladas fiscais”, no entanto, o significado do termo é dado “segundo a oposição”. O que podemos supor do conceito de pedaladas fiscais nesse contexto? O conceito será contra ou a favor do governo?

b)    O que você acha da definição de um conceito a partir de um ponto de vista?


c)    Releia a notícia e estabeleça um conceito para “pedaladas fiscais” de forma clara e isenta de julgamento.

d)    Levando em conta o conceitos da função referencial e da função apelativa, em qual das funções você encaixaria esse texto?

e)    Se o termo “pedaladas fiscais” tivesse sido conceituado da seguinte forma:

“No futebol, pedalar significa passar o pé por sobre a bola, com o objetivo de enganar seu marcador. No caso do governo Dilma, o marcador era a fiscalização de suas contas, que foi driblado pelas pedaladas.”

Que função da linguagem teria sido usada para construir esse conceito?

Observe o texto abaixo retirado do site pragmatismopolitico.com

a)    Retire do texto marcas do registro informal de linguagem.

b)    O texto apresenta um excesso do uso de exclamações. Retire uma dessas frases e justifique o uso da exclamação.

c)    Que função de linguagem foi usada na construção dessa fala. Justifique.

Observe o texto abaixo, retirado do Jornal Folha de São Paulo:
Os Dez Mandamentos volta com rebeldia
Gabriela Sá Carneiro – Enviada especial ao Rio de Janeiro

Mais do que mar e terra, “Os Dez Mandamentos” abriu de vez um filão no país: o entretenimento religioso que, apesar de essencialmente evangélico, consegue dialogar com outras fés cristãs.
A novela foi a maior audiência da história da dramaturgia da Record. A emissora correu para lançar, em janeiro, uma versão editada nos cinemas.
Há quem atribua o sucesso da novela ao escapismo da trama, distante da crise política e econômica – diferente da Regra do Jogo, folhetim da Rede Globo.
Segundo Vivian de Oliveira, escritora da novela, não há nada de escapismo: “As pessoas estão desacreditadas. Ver um povo escravo derrotar o opressor nos faz pensar que podemos construir uma nação livre, decente.” (texto adaptado)
A jornalista Gabriela Sá Carneiro viajou a convite da Record.

1.    Observe a caracterização que o Jornal dá a repórter: enviada especial ao Rio de Janeiro e depois em letras miúdas avisa que a viagem da enviada foi um convite da Record. O que se pode supor a partir dessas informações?

2.    Ao informar que: a novela é um entretenimento essencialmente evangélico, mas dialoga com outras fés, que intenção se pode atribuir a essa afirmação?

3.    Ao afirmar que ao contrário da Rede Globo, a Record se distancia da crise política e econômica do país e que isso é a maior atração para o público, o que se pode supor sobre o interesse do público da novela?

4.    Segundo o texto, o povo oprimido derrota o opressor, construindo uma nação livre e decente. Como essa nação é construída, se não há referência nem a economia e nem a política?

5.     Que função você considera que foi utilizada pela repórter para construir seu texto? Explique.

A música abaixo, foi gravada por Cazuza, no final dos anos 80. O artista, fazia parte da geração que havia lutado por vários ideais: a queda da ditadura, a liberação sexual e a liberdade artística. Mas em 87, quando a música foi lançada, o cantor tinha descoberto que morreria de Aids e um estado de decepção com suas crenças se instalava: a democracia não trouxera a igualdade que se esperava, os burgueses continuavam no poder, e o artista percebia que ele mesmo, quisera tanto construir algo diferente, mas no final sucumbira ao seu mundinho de elite vazia e perdida.

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do "Grand Monde"

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Link: http://www.vagalume.com.br/cazuza/ideologia.html#ixzz44ngPt09s

1.       O poeta faz um trocadilho nos versos: “Meu partido é um coração partido”. Que sentimento se traduz pela questão política do país, nesses versos?

2.       O eu-lírico demonstra a mudança de percepção de si mesmo ao afirmar:

“Eu nem acredito que aquele garoto que ia mudar o mundo, frequenta agora as festas do “Grand Monde”. Sabendo que “Grand Monde” era um clube de ricos e famosos cariocas, em que consiste a decepção do eu lírico consigo mesmo?

3.       No verso: “Meu prazer agora é risco de vida, meu sex and drugs não tem nenhum rock´n´roll”, a que situação pessoal o artista se refere e que sentimento esses versos traduzem?

4.       Que ligação há entre a afirmação de que se paga analista para se esquecer quem é e o fato de que ele é um observador em cima do muro?

5.       Por que é tão importante para o poeta possuir uma ideologia?


6.       Que função da linguagem foi usada para compor a canção? Explique.

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LÍNGUA PORTUGUESA
FIGURAS DE LINGUAGEM
As três figuras que estudaremos nesse grupo – elipse, pleonasmo e polissíndeto – resultam da forma de organização das palavras nos enunciados. As outras quatro – onomatopeia, aliteração, assonância e anáfora – caracterizam-se pelo seu aspecto sonoro e constituem importantes recursos para realçar o ritmo e a musicalidade do texto, características próprias do texto poético.
·         Elipse – omissão de uma palavra ou expressão que o contexto permite ao leitor/ouvinte identificar.
Exemplo: Se chegar depois das três, a casa fechada. A mala na varanda. E o táxi na porta. (Dalton Trevisan)

·         Pleonasmo – o significado de um elemento textual é intensificado por meio de outra palavra que expressa uma repetição da ideia já contida nesse elemento.
Exemplo: Garota eu vou pra Califórnia/ Viver a vida sobre as ondas... (Lulu Santos)

·         Polissíndeto – recurso eficiente para sugerir fatos que se dão em sequência e sem interrupções, utilizando uma conjunção nessa sequência.
Exemplo: Não tinha havido pássaro nem flores o ano inteiro. Nem guerra, nem aulas, nem missas, nem viagens e nem barca e nem marinheiro (Cecília Meireles)

·         Onomatopeia – criação de uma palavra para tentar reproduzir um som ou ruído.
Exemplo: Dentro da sala havia um zum-zum-zum dos alunos.

·         Anáfora – repetição de uma palavra ou trecho de frase no início de uma sequência de orações ou versos.
Exemplo: Que é pra ver se volta/ Que é pra ver se você vem/ Que é pra ver se você olha para mim... (Adriana Calcanhoto)

·         Aliteração – a repetição regular de um determinado som consonantal.
Exemplo: O vento varria as folhas/ O vento varria os frutos/ O vento varria as flores/ E a minha vida ficava/ Cada vez mais cheia/ De frutos, de flores, de folhas ( Manuel Bandeira)

·         Assonância – disposição, em sequência, de um conjunto de palavras nas quais um som vocálico se repete, geralmente alternando sonoridade aberta com sonoridade fechada, criando um efeito sonoro expressivo.
Exemplo: Sou Ana das loucas/ Até amanhã,/ Sou Ana, da cama/ Da cana, fulana, sacana/ Sou Ana de Amsterdam (Chico Buarque)

EXERCÍCIO:

1.       Leia estes dois trechos dos poemas abaixo:


TEXTO 1
De tudo ao meu amor serei atento
Quero vivê-lo a cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
(Vinícius de Moraes)

TEXTO 2
Teu olho cansado,
Entrava-nos alma adentro
E via essa lama podre
E com pesar nos fitava
E com ira amaldiçoava
E com doçura perdoava
(perdoar é rito de pais,
Quando não seja de amantes)
(Carlos Drummond de Andrade)

a)     O poeta faz uso de uma figura de linguagem que estabelece relações de oposição.
-Dê o nome dessa figura;

- transcreva os elementos textuais por meio dos quais ela se manifesta

- e explique o que ela sugere a respeito dos relacionamentos amorosos.


b)      Considere esta passagem do TEXTO 1
“E rir meu riso e derramar meu pranto”
Nesse verso, o poeta emprega uma expressão de sentido redundante, repetitivo: “rir meu riso”.
-Dê o nome dessa figura de linguagem;
- comente se ela ocorre também na expressão “derramar meu pranto”.

c)       Nos dois textos, os poetas empregam, como recurso estilístico, uma mesma figura de linguagem.
- Dê o nome dessa figura de linguagem;
- explique o efeito expressivo que eles buscaram obter ao empregá-la nos poemas.

    ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO AREAL
LÍNGUA PORTUGUESA
FIGURAS DE LINGUAGEM

Segundo Mauro Ferreira, a importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao significado simbólico   das palavras e dos textos.
 Definição: Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.
A seguir, estudaremos as figuras cujos sentidos estão centrados no sentido contextual, ou seja, no sentido que as palavras, expressões e frases adquirem quando participam da constituição dos textos:
·         Comparação – Os homens são como percevejos.
·         Metáfora – O circo era um balão aceso. 
·         Metonímia – O estádio vaiava o juiz da partida.
·         Antítese – Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
·         Eufemismo – Acho que meu filho não atingiu o índice de aproveitamento de meninos da sua idade.
·         Personificação – As árvores dançam ao vento
·         Hipérbole – Estou com tanta fome que comeria um cavalo.
·         Ironia – Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor!

EXERCÍCIOS
1.      Leia o trecho do conto “Minha gente”, de Guimarães Rosa.  

Pelo rio desciam bolas de lã, sulfurina: eram os patinhos novos, que decerto tinham matado o tempo, dentro dos ovos, estudando a teoria da natação. E, no pátio, um turbilhão de asas e bicos revoluteava e se embaralhava, rodeando a preta, que jogava os últimos punhados de milho...

ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2006. p. 217.

Para intensificar a expressividade da cena descrita, o autor faz uso de vários recursos da linguagem figurada. Releia o texto e responda:
a)      Ao se referir aos patinhos novos como “bolas de lã”, o autor sugere a existência de aspectos comuns aos patinhos e às bolas de lã. Explicite esses aspectos e dê o nome da figura de linguagem empregada nesse caso.



b)      O autor utiliza as palavras “asas” e “bicos” em lugar de “aves”. Explique por que a troca foi possível e classifique essa figura de linguagem.


c)      O autor emprega uma personificação. Transcreva o trecho em que ela ocorre e explique-a no contexto do fragmento.

d)     No texto ocorre uma hipérbole. Transcreva-a e justifique sua resposta.

2.      Um recurso bastante explorado em tirinhas de humor consiste em um dos personagens utilizar a linguagem em sentido figurado e o outro interpretar literalmente a fala de seu interlocutor ou vice-versa. É isso que acontece nesse diálogo entre Hagar e seu inseparável amigo Eddie.
O humor da tirinha decorre do seguinte fato:

a)      Hagar se expressa por meio de uma metáfora, que Eddie interpreta literalmente.
b)      Hagar emprega a linguagem no sentido denotativo, literal, e Eddie interpreta a fala do amigo como um exagero, ou seja, como uma hipérbole.
c)      Hagar, para suavizar a ideia de morte, utiliza um eufemismo, mas Eddie, interpreta literalmente a fala do amigo.
d)     Hagar, para impressionar Eddie, faz uso de uma hipérbole, mas o amigo a interpreta como uma antítese.
e)      Hagar faz uso de um eufemismo, mas Eddie interpreta a fala do amigo como uma ironia.

3.      Leia o trecho a seguir, do escritor Eça de Queiros, em que o ambiente natural de uma serra é descrito:

[...] Por toda parte a água sussurrante, água fecundante... Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos, de entre as patas da água e do burro; grossos ribeirinhos açodados saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como cordas de prata vibravam e faiscavam das alturas aos barrancos; e muita fonte, posta à beira das veredas, jorrava por uma bica, beneficamente, à espera dos homens e dos gados... [...]

QUEIROZ, Eça de. A cidade e as serras. São Paulo: Hedra, 2006. p. 183.

a)      Que figura de linguagem é bastante evidente nesse trecho? Explique:

b)      Comente o efeito expressivo que o autor obtém ao empregar esse recurso estilístico para descrever o ambiente da serra.  


4.      Leia estes versos do poeta Ferreira Gullar:
No horizonte gorjeiam
Esta manhã as metralhadoras
Da tirania que chega
Para nos matar

GULLAR, Ferreira. Dois poemas chilenos. In: Na vertigem do dia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 75.

Relativamente aos recursos expressivos desse trecho, identifique a afirmação incorreta.
a)       Como “gorjear” significa “cantar harmoniosamente” e é um verbo usualmente empregado em relação ao canto dos pássaros, conclui-se que, nesses versos, gorjeiam” tem sentido conotativo.
b)       Nos dois primeiros versos, identifica-se uma personificação, figura que consiste, nesse caso, em atribuir a seres inanimados a capacidade de “gorjear”.
c)       A Inusitada relação estabelecida entre as palavras “metralhadoras” e “gorjeiam” cria um efeito de ironia.
d)       A palavra “tirania”, que nomeia uma ação ou modo de governar, foi empregada em lugar de “tirano” (governante cruel, impiedoso). Essa substituição entre palavras de sentidos contíguos (próximos) constitui um exemplo de metonímia.
e)       As palavras “gorjeiam” e “matar” têm sentidos opostos e criam, nesse contexto, uma antítese.

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO AREAL
LÍNGUA PORTUGUESA
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO E ESTUDO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM

Negrinha
Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.
— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”...
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.
Não sabem! Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.
— “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa.
Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! — disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias.
— Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
— Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
— Abra a boca!
Negrinha abriu aboca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a   aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste?
E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.
— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que trabalheira me dá!
— A caridade é a mais bela das virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.
— Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres empresta a Deus.
A boa senhora suspirou resignadamente.
— Inda é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.
Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga”?
Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? — perguntou uma das meninas, curiosa.
— Quem há de ser? — disse a tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora.
— Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco.
Chegaram as malas e logo:
— Meus brinquedos! — reclamaram as duas meninas.
Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos.
Que maravilha! Um cavalo de pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que falava “mamã”... que dormia...
Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
— É feita?... — perguntou, extasiada.
E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão,o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo.
— Nunca viu boneca?
— Boneca? — repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?
Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.
— Como é boba! — disseram. — E você como se chama?
— Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca:
— Pegue!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.
Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein?
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga. Compreendeu vagamente e sorriu.
Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se   à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!
Assim foi — e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.
Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou...
E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
— “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.
   — “Como era boa para um cocre!...”


FIGURAS DE LINGUAGEM
Texto: Negrinha – de Monteiro Lobato

Reflexão sobre o texto:
1.     A personagem principal é conhecida por seu apelido: Negrinha. O que se diz sobre a condição humana, social e cultural da personagem o fato de que ela não tem nome?
a)     A falta de registro torna a personagem invisível do ponto de vista social.
b)    O nome representa o valor social e cultural de uma pessoa.
c)     Um apelido restringe a pessoa a uma qualificação e desvaloriza seu valor social e cultural.
d)    A falta de um nome próprio não interfere na condição humana, social e cultural de uma pessoa.
e)     N. d. a.

Observe a descrição abaixo:
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências,  discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia  reverendo.”
2.     Monteiro Lobato usa o recurso da ironia para caracterizar D. Inácia. Retire a frase  em que se percebe a ironia?
a)     Excelente D. Inácia
b)    Gorda, rica, dono do mundo...
c)     Dama de grandes virtudes, dizia o reverendo
d)    Amimada dos padres
e)     Lugar certo na igreja

3.      Qual o sentido real por trás da ironia?
a)     Ridicularizar a personagem.
b)    Enaltecer a personagem
c)     Mostrar a diferença entre a visão pessoal e a visão social da personagem.
d)    Demonstrar o quanto a sociedade preza a personagem.
e)     N.d.a


4.     O que significa o termo: “amimada dos padres”?


5.     Nesse trecho percebe-se um conflito entre a visão do narrador e a visão da sociedade acerca do caráter de D. Inácia. Em que consiste esse conflito?
.



6.     O texto denuncia uma condição controversa da Igreja no que diz respeito ao tratamento dado aos negros no Brasil, no início do século XX. Que contravenção seria essa?


O Estatuto da criança e do adolescente, hoje, garante que todas as crianças tem o direito à liberdade e que esta compreende: a liberdade de opinião e expressão, crença e culto religioso; brincar, praticar esporte e divertir-se; participar da vida familiar e comunitária, sem sofrer discriminação; participar da vida política na forma da lei; buscar refúgio, auxílio e orientação.
Mas no início do século XX a realidade era bem outra. Mesmo as crianças brancas, filhas de famílias pobres estava submetida a duras horas de trabalho em fábricas, não havia direito a escolaridade garantidos pelo Estado e as crianças órfãs ficavam sob a tutela da Igreja ou do Estado que buscava garantir-lhes o direito básico a alimentação e moradia, sem compromisso com sua formação e segurança. Se a situação da infância já era difícil para as crianças brancas em situação de risco, muito mais para as crianças negras.

Observe o trecho abaixo:
“Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.”

7.     Enumere as privações a que está submetida esta criança no trecho acima.

8.     Reflita sobre a condição da criança na atualidade, você acha que ainda é comum que os adultos exerçam um controle tal, sobre as crianças a ponto de roubar-lhe os direitos garantidos em lei?
 9.    Observe as frases abaixo e diga que figura de linguagem foi usada para compô-las.

a)      Choro de criança punha os nervos de D. Inácia em carne viva.
b)      D. Inácia não suportava o choro da carne alheia.
c)      A peste que está chorando é a pia de lavar pratos?
d)      Negrinha tinha os olhos eternamente assustados.
e)      Negrinha ficou pela casa feito gato sem dono.
f)       Negrinha era o diabo.
g)      Negrinha era uma pata-choca, uma barata descascada.
h)      Negrinha era a peste bubônica.
i)        A pobre carne da menina atraia os cascudos e beliscões como o imã atraia o aço.
j)        A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.
k)      Negrinha era remédio para os frenesis de D. Inácia.
l)        Os olhos contentes envolviam a miséria da criança.
m)    Negrinha gritou surdamente.
n)      A virtuosa dama voltou contente ao seu trono depois de torturar a menina com um ovo quente.
o)      A caridade é a mais bela das virtudes cristãs.
p)      Chegaram duas meninas lindas como anjos do céu.
q)      As meninas eram vivazes como cachorrinhos novos.
r)       Chegou ao fim o seu inferno e finalmente foi aberto o céu.
s)       O duro coração de D. Inácia amoleceu diante da expressão de encanto de Negrinha.
t)        A coisa mais inesperada do mundo aconteceu e Negrinha pode brincar.
u)      A fera transformou-se em piedosa criatura.
v)      Princesa e mendiga, ambas têm na boneca o ensaio da mulher.
w)    As meninas partiram e Negrinha se viu numa tristeza infinita.
x)      Dezembro fora uma luminosa rajada de céu trevas adentro de seu inferno.
y)      A terra papou com indiferença aquele carne de terceira.